quinta-feira, 11 de agosto de 2011

You could spend your whole life holding on ♪

Não, não posso aguentar firme, não posso me segurar, me ajude, por favor, estou caindo, estou gritando minha voz rouca, vomitando dores agudas em todos os cantos do corpo e de mim.
Onde está você? Lembra-se que prometeu não estragar tudo dessa vez? Já o está fazendo!
Onde está você? - Repito. Te preciso tanto!
Não precisa mais fingir se importar, não é? Não precisa mais fingir uma mudança, já que agora já estou novamente em tua vida, novamente em tua mão... Mas que droga!
Não percebe essas marcas em meus olhos? Essas olheiras? Essas vermelhidão prova de minhas lágrimas? Não vê as cicatrizes em minha perna?
Não vê que sofro e a culpa é sim, sua?
Aliás, como já disse, é sua e minha que me presto para isso, para ser manipulada e me deixar usar por ti. Vá embora!
Espere, o que está fazendo? Não me deixe, preciso tanto de você!
Percebe o que me tornei? Eu odeio tanto esse alguem em que me transformei! Não posso te odiar tanto quanto me odeio e isso me frusta. Não posso odiar ninguém tanto quanto odeio a mim mesma. Droga.
Então fique, meu bem. Fique porque o doce dura pouco e o ácido rapidamente me corroerá. Você não estava errado: Eu tentarei de novo o que já tentei.
Perdoe-me. Esqueci que você não se importa, que quer apenas alguém pra cuidar, o mérito por ter salvado alguem.
Não preciso de um psicólogo, não preciso de terapia, psiquiatras, médicos ou um hospicio, como talvez fosse sua próxima sugestão. Preciso de algo que me faça sentir ou não sentir, vá saber? Me passe esse cigarro, essa seringa, esse pó, essa bebida. Me dê qualquer coisa, não me importa, uns comprimidos, um chá de qualquer coisa. Me anestesie porque é só isso que preciso. E quem sabe, talvez, isso dure por mais do que uma noite; quem sabe dure para sempre.

Reports "Save me!"

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Frozen inside ♪

Lábios rachados, mãos ressecadas, nariz irritado. Os olhos puxados delineados de preto, a franja lisa e negra escorrendo-lhe, desgrenhada, pelo rosto, o sorriso quebrado quase desfazendo-se.
Estava sentada no chão frio do banheiro, uma das mãos cobrindo o rosto, a outra apoiada no piso branco e azulejado.
Ali, bem ao lado dela, caída, estava a pequena lâmina prateada e, como sempre, o pozinho branco sobre ela. Vícios e fraquezas, frieza e força...Lá estava ela, o paradoxo ambulante.
Levantou e olhou-se no espelho da penteadeira, suas olheiras estavam fundas e a vermelhidão era evidente em suas narinas. Tirou a blusa, deixando assim à mostra também as marcas roxas em seu antebraço esquerdo, e abriu a torneira da banheira.
Enquanto esperava para que esta estivesse completamente cheia d'água, limpou o chão, guardando o que sobrara do pó em um saquinho e recolocando a lâmina na terceira gaveta da penteadeira, onde sempre ficava.
Subiu rapidamente na balança, estava com 46 quilos para seus 1,70 de altura, dois quilos a menos do que na semana anterior, o que a assustou, mas nada demais; tinha uma falsa certeza de que nada mais poderia salva-la no ponto em que estava. Desceu da balança, tirou a calça jeans surrada que usava e a jogou no chão enquanto abria o sutiã com a outra mão. Olhou-se novamente no espelho e pensou que talvez não houvesse problema com uns quilinhos a menos. Fosse como fosse, terminou de tirar a roupa e entrou na banheira.
A sensação da água quentíssima de encontro a sua pele gelada causou-lhe dor, mas nada que não pudesse suportar. Deitou-se.
Já fazia algum tempo que ela estava incapaz de chorar, isso era o que eles chamavam de força, não era? Uma frieza escrota, acima do normal, na qual você sente as dores da vida como socos no estômago e chutes na face, sente um enjoo forte, dores de cabeça e calafrios, mas não chora. Não consegue.
E, além de não conseguir, não quer. Chorar é fraqueza.
Ao não chorar, ao não sentir, ao resfriar a alma, acabava por sentir tudo muito mais forte do que sentiria se simplesmente se deixasse levar pelo normal, pelo comum e usual, se apenas se contentasse em sentir como os demais, chorar como os demais. Mas não, ela era forte, não era?
Nesse momento, em pleno êxtase, sentindo o efeito do que havia usado pouco antes, saiu da banheira, da água quente, do falso conforto, vestiu um roupão branco e, andando mais rápida e determinada do que normalmente, fechou a mão e socou, com todas as forças que tinha e não tinha, o espelho, fazendo com que boa parte deste fosse ao chão em cacos e outra boa parte sofresse os danos formando rachaduras e ondulações.
Olhou para a própria mão, haviam pequenos cacos fincados em seus nós dos dedos e o sangue quente, fervilhando ódio e raiva inexplicáveis, escorria por seu braço e pingava no chão.
Era forte, não era?
Abriu a terceira gaveta, segurou na mão machucada a lâmina prateada e o resto do pó. Os rodou entre os dedos cortados apreciando a beleza da fraqueza. Abriu a segunda gaveta e, também com a mão retalhada, segurou uma seringa, uma colher, meio limão e outro saquinho com um pó um pouco mais espesso.
Com a mão boa abriu a tampa do vaso sanitário e arremessou tudo isso dentro dele. Pressionou a descarga com força e deu adeus a tudo o que ainda restava da sua fraqueza.
Virou as costas e dirigiu-se de novo a banheira e, ao alcança-la, mergulhou a mão na água quente.
Era provavelmente a quarta ou quinta vez que repetia esse teatro. Se possuía alguma força sequer, esta estava em sua mão, que já aguentára quebrar mais vidros do que qualquer fabricante de bebida ou viciado em álcool quebraria em sua vida.
Deixe estar... Qualquer dia aprenderia que força mesmo só possui quem aguenta ser chamado de fraco ao não ser.

domingo, 29 de maio de 2011

Era tudo o que eu queria ♪

O quarto branco, frio e gélido, a luz amarelada da luminária, o rosa choque das cobertas da cama, os dois colchões jogados ao chão, garrafas de coca-cola, red label e água com gás encontravam-se expalhadas, em prateleiras da estante, em cima do baú ou próximas ao piano, junto com as cinzas de um cigarro de maconha que fora fumado, um pote de batatas-fritas, papéis de bala de cereja e bombons.
E uma embalagem de camisinha perto das roupas, misturadas sobre o sofá.
Nos colchões, lá estavam eles novamente. Estavam vivendo como Sid e Nancy havia meses, mas afinal, qual era o problema? Estavam felizes e só isso importava.
Ele fingia não ver os cortes que cobriam a coxa esquerda dela durante os períodos em que estavam juntos, mas, nas longas noites de conversas, fosse pelo telefone ou pelo computador, passava-lhe sermões inacabáveis.
Ela fingia não ligar para as palavras dele, fingia estar bem quando não estava com ele, fingia uma certeza escrota de que ele não se preocupava com ela. Também fingia não querer, nem um pouquinho, aqueles cigarros, que ela tanto dizia odiar. Odiava mesmo, mas isso não significava que ela não tinha vontade, vez ou outra, de saber como ele se sentia.
Na limitada visão que tinha do mundo, ela achava saber que ele não se importava com ela, que ele não gostava dela e que ela nada representava para ele, embora, bem no fundo, encontra-se suas próprias mentiras colidindo com suas pseudo-verdades.
Era boba, tinha a cabeça vazia e não sabia o que fazia, não pensava em suas ações e agia por impulsão, enquanto ele calculava cada fala, cada gesto, cada ato.
Ela estava bem pela primeira vez em meses, fora ele quem re-colocara o sorriso em sua face, o que, como consequencia, fazia com que ela tivesse um medo absurdo de perde-lo, embora não o amasse. Não amava mas gostava, e muito, dele. Assim como ele dela.
Para ser sincero, enquanto escrevo penso em um modo de expressar, fazer sentir, como eles se sentiam, mas não consigo. Humildes palavras de nada servirão, eles sentiam mais do que conseguiam expressar... Ao menos, ela. Ele, já não sei.
O que importa, aqui e agora é que estavam os dois bem, por mais incrível que isso fosse para essa garota bobinha de cicatrizes na perna. O que importa é que, pela primeira vez, ela não sentia aquele medo besta de viver. Vivia e pronto.


Reports: "Carpe Diem"
(Especial para meu anjinho insuportável. Também para meu melhor amigo anjinho e minha melhor amiga anjinha, haha)

segunda-feira, 21 de março de 2011

And love is evil ♪

Há agulhas penetrando meu estômago e canivetes cortando minhas veias. Ao invés do doce ar, há absinto adentrando meus pulmões e é como se um rolo compressor me atropelasse.
Dói, dói demais, mas esse amor é tão forte, tão intenso e, acima de tudo, tão verdadeiro que o mundo nunca irá entender o que sinto. Mas eu quero mesmo é ver o mundo cair, quero ver o mundo sentir uma dor ainda pior do que a minha, quero ver o mundo implorar de joelhos pela minha dor, que perto da que estará sentindo será como alta dose de procaína.
Os grandes amores são assim mesmo, é verdade, e os sentimentos reais são meus, ninguém leva, copia ou divide. Cansei das pessoas que dizem amar a todos, como se amar fosse algo simples, banal, tão inútil quanto o preço do kilo do filé mignon aos vegetarianos.
Eu tento fugir, me esconder, correr pra longe do mundo, que insiste em falar sempre sobre a real causa da minha dor. Eu não quero ouvir! No fundo acho que realmente acredito que se ninguém me lembrar da minha dor, ela não existirá. Como sou idiota! Como se eu não soubesse que é impossivel livrar-me dessa dor, como se eu não soubesse que mesmo no mais profundo silêncio o grito da dor ecoa em mim.
Todos dizem que sou uma boa pessoa por deixar meus problemas de lado para ajudar os outros com os seus, mesmo quando sei que meus problemas são incoparavelmente maiores, mas nenhum deles sabe que apenas faço isso porque quero os problemas fáceis de novo, quero lidar com os problemas supérfluos pois me acalma, são tão simples de resolver...! Ao contrário dos meus, que nem ao menos possuem uma solução.
Venham - Disse o palhaço - Cheguem mais perto e deixem-me ajudar-lhes com a solução de seus problemas, vejam como sou feliz!
Mas ninguém nunca levantou a manga do palhaço e viu os cortes eu seus braços e pernas, ninguém nunca tirou sua maquiagem e viu as marcas das lágrimas, ninguém nunca observou seus pensamentos e viu que ele, o próprio, sofria de depressão.

Reports "Drop the world"

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Baby, it's a wild world ♪

Estava cansada, cansada de lutar por sua vida, de lutar por sua sanidade, de lutar para permanecer existindo. Existir para que? Para continuar apanhando? Não sabia, mas continuava mesmo assim.
Ele havia mudade. Logo ele, que ela julgava conhecer muito bem, estava transformando-se em um monstro, alguém desconhecido. Estava frio e seco, não fazia mais o mesmo esforço para vê-la bem, mas ela entendia. Ele estava confortável em sua vida, nunca entenderia o que ela sentia, era uma dor muito acima do normal, nem mesmo ela, já tão acostumada a sofrer, a havia sentido antes.
Ele também não fazia esforços para compreender, e ela também entendia. Provavelmente já havia se acostumado com a idéia de que ela estava mal, se é que compreendia isso. Não sentia mais que ele se preocupava com ela e das coisas que sentia, nunca duvidava. Havia pressentido o final e costumava sonhar coisas que aconteciam tempos depois. Não, não podia duvidar de seus sentimentos, pressentimentos, por mais estranhos que fossem. Mas este não era estranho, era? Ela sabia que ele não se importava mais. Sentia a comodidade dele com tal situação.
Tomara, então, a decisão mais difícil de sua vida: Afastar-se dele. Não queria, odiava tal idéia, mas sabia que seria melhor. Aliás, disso não sabia, apenas achava. Os dois estavam brigando muito desde O fim e não havia nada que ela pudesse fazer a não ser se afastar e "rezar" para que a tal irmandade que ele dizia ainda existir entre eles, não fosse esquecida.
Havia se despedido dele, afinal, temia não mais voltar a vê-lo.
Cortes, cigarros, álcool... Qual seria a próxima válvula de escape que escolheria?
Era uma idiota, uma completa idiota. Havia conseguido estragar a própria vida inteirinha, apenas enquanto tentava ajeitá-la, então, porque continuava viva? Ela sabia bem porque. Era uma covarde, fraca. Sim, era fraca, não aguentava o tranco.
Mas... Tinha elas, não tinha? Tinha as duas meninas que tanto a ajudavam, então, poderia ainda haver alguma esperança para ela, não?
Assim veria.

Reports "It ends tonight"

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

These wounds won't seem to heal ♪

Deitou a cabeça no travesseiro, arranhava a pele da perna, não conseguia dormir, não conseguia se acalmar. Nunca imaginara que chegaria a tal ponto, ia dormir rezando para não mais despertar, para a dor acabar logo.
Desistiu de tentar, levantou-se e tateou a estante; achou o que procurava. Testou a lâmina da tesoura com o dedo, estava afiada. Levantou a camisola e fincou a tesoura na pele da perna esquerda, já coberta de cicatrizes horríveis.
Sorry, foi isso que ela escreveu. Pedia desculpas a ele por vê-la sofrer, por vê-la chorar. Ela sabia que ele se sentia culpado por isso, mas a única culpada era ela. Me desculpe por não ter sido boa o bastante pra você, por não ter sido o suficiente. Me desculpe por você se sentir culpado pela minha dor. Me desculpe por as vezes pular em ti como se fosse te decapitar, sem motivo algum, e você apenas me segurar, delicado, e sussurrar palavras de consolo ao meu ouvido. Me desculpe por te envolver nisso, ainda és meu melhor amigo, sempre será, e sei que sempre serei tua melhor amiga, mas não quero vê-lo sofrer por mim. Você não tem obrigação nenhuma de me consolar quando estou mal. Me desculpe por tudo, eu só queria você. Perdi minha vida no momento em que perdi você; existir não é viver. Eu te amo.
Deitou a cabeça no travesseiro, e então adormeceu.
Só torcia para que o lençol não amanhecesse manchado de sangue.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

You can stop waiting to breathe ♪

Estava fazia tanto tempo fechada dentro do mesmo quarto escuro que seus olhos já estavam acostumados à escuridão. Seus cabelos claros provávelmente já estavam sujos e embaraçados. O esmalte de suas unhas já havia descascado por inteiro.
Não sabia mais qual roupa estava vestindo. Batia ou tropeçava em alguns objetos vez ou outra, mas já começara a decorar a posição desdes, a planta do quarto.
O copo de café sobre a mesa estava vazio havia dias, mas ela já perdera a noção do tempo e não via mais o sol raiar, não percebia o passar das horas. Não sabia mais que horas dormir ou levantar, o fazia na hora que sentia sono e tinha medo de já ter trocado o dia pela noite sem nem mesmo perceber.
Haviam pacotes de comida vazios no chão e um pires com restos da parafina do que um dia havia sido uma vela próximo ao copo vazio de café.
Vez ou outra esmagava um inseto com seus pés descalços, mas não sentia mais nojo. Nem sequer se dava ao trabalho de tentar remover seus cadáveres do chão, como nos primeiros dias.
Seu caderno jazia aberto sobre um sofá que, visto na luz, era azul bebê. Havia um lápis e uma borracha próximos ao caderno, mas ela havia parado de tentar relatar seus dias no papel quando a vela havia terminado e a luz de sua chama, se extinguido.
Estava fadada a morrer ali, sozinha. Estava apodrecendo pouco a pouco dentro daquele quarto aquela que antes havia sido bela jovem.

Reports "Comfortably numb"